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Sem Coração: invenção e descondicionamento no cinema nacional

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 13 de mai. de 2024
  • 2 min de leitura

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Crédito: Vitrine Filmes

Direção: Nara Normande, Tião. Roteiro: Nara Normande, TiãoMontagem: Juliana Munhoz, Edu Serrano, Isabelle Manquillet. Direção de Fotografia: Evgenia Alexandrova. Produção: Emilie Lesclaux, Kleber Mendonça Filho, Justin Pechberty, Damien Megherbi, Nadia Trevisan, Alberto Fasulo. Direção de Arte: Alessandra Frigato. Som: Riccardo Spagnol, Gianluca Gasparrini, Lucas Caminha. Música: Tratenwald


O filme de Tião e Nara Normande está longe de ser perfeito. Mas o que é a perfectibilidade quando estamos falando ou lidando com o cinema brasileiro contemporâneo?


Penso que se trata de algo da ordem de onde se parte o elemento inventivo e descondicionador do modo como as obras são estabelecidas e apresentadas. Muito se questiona a respeito de uma certa tendência da cinematografia mundial dos nossos tempos em se enquadrar por meio de códigos.


Quando muitas vezes de vícios mesmos das ordens da forma e do próprio sentido das obras. Aqui, o que a dupla de realizadores faz parece muito alinhado com esse estado frágil de onde a matéria fílmica é concebida.


A hiperestilização de determinados trabalhos, por exemplo, opera como base de parte dessas críticas, guardadas as devidas proporções, daquilo o que caberia ou extrapolaria os limites deste texto.


No fundo, quando refletimos sobre a produção brasileira, vale o entendimento do que é virtude, força de inventividade e o que é apenas replicação de tendência, de fórmulas na construção audiovisual.


Na experiência nacional, é fundante o exemplo de como realizadores como Adirley Queirós empregam às motivações audiovisuais e narrativas em favor dos filmes e do gesto de se criticar ou refletir sobre algo.A sequência do culto evangélico em "Mato Seco em Chamas" exemplifica bem essa perspectiva de um motivo proposto em função de um propósito.


Nesse caso, o de se lançar um olhar para a manifestação da fé não como uma crítica pautada no desdém, mas sim na observação daquele agrupamento como um símbolo de uma força, talvez até pouco compreendida na amálgama do que seria o povo brasileiro nesse século.


Algo que não conseguimos sentir verdadeiramente na cooperação entre Normande e Tião. Entendemos que a intenção é reconstituir parte das memórias de um tempo, nessa década de 1980 pré-democrática, mas boa parte das fatias que constituem o filme soam apenas ilustrativas e auto celebratórias de um tipo de cinema específico.


E aí, a sequência do forró do final de semana, ou da mãe ouvindo um disco da Maria Bethânia com a filha, constatam exatamente isso. Desse manifesto de uma cinematografia muito mais preocupada em associar esses momentos líricos meio esvaziados de um real sentido e que acabam por reforçar ainda mais determinados esteriótipos apresentados nos termos de uma "gramática".


Isso quando não estamos falando da esteriotipação da violência enquanto uma endemia social dessas narrativas. Do pobre que é ladrão, e que por isso só encontra a humilhação no seio onde vive, seja por parte dos seus ou de desconhecidos.


Se ao fim, a reflexão se baseia nisso em maior medida, então não há arco lírico nessa proposta. Ainda estamos diante de um Cidade de Deus que cumpre circuito em festivais europeus e internacionais. Só isso.

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