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Superdance: o cinema como arte da deriva

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 1 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

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Direção: Pedro Henrique. Fotografia: Irene Bandeira.Produção: Leandro Bezerra, Mariana Gomes. Som: Rodirgo Fernandes. Montagem: Mariana Nunes.



O cinema pode ser pensado como uma maravilhosa arte que encontra no conceito de deriva, uma de suas propriedades mais poderosas. E nesse devir criativo é que a expansão das possibilidades narrativas do exercício cinematográfico se colocam mais assertivamente. Foi partindo da gênese desses conceitos que filmes como o excelente Superdance (2017) chegam aos nossos olhos e percepções.


Em tese, o curta conta a estória de 9 amigos que se encontram em diferentes pontos de Fortaleza, enquanto dialogam sobre as mais diversas variáveis da vida, como o lugar dos sujeitos nos espaços, a crítica da TV, o sexo e as complexidades das relações sociais. Toda essa miscelânea temática, entretanto, é desenvolvida a partir de uma estrutura que mescla nuances diametralmente opostas do naturalismo narrativo.


Dizer isso é falar de um trabalho que se ancora na base de um roteiro pré-estabelecido, mas que apenas pauta a dinâmica desses personagens cena a cena. Ou seja, há um frescor de liberdade bastante perceptível no modo como cada ator desenvolve seus personagens, seus discursos e as interações que levam a estória para frente.


Juntos, eles inserem-se numa série de pequenas esquetes, ou pequenas peças/capítulos de caráter cômico, que também podem conter críticas sociais e culturais. A partir dessa estrutura, cada sequência do filme é costurada organicamente sem que a obra recaia em um tom clássico, cuja estrutura de início-meio-fim, de algum modo despotencializaria o trabalho, considerando-o como um curta iminentemente contemporâneo.


Existe uma fragmentação visível nas partes que formam o seu todo. Mas isso em momento algum produz qualquer fissura no entendimento da estória. Porque em Superdance, a questão mestra é exatamente a noção de deslocamento com base nesse espaço e cenários itinerantes. Nos elementos que formam a mise èn scene fílmica, considerando aquilo o que é domínio público (estruturas da cidade, como praças, ruas e avenidas) e o que é particular, no caso dos objetos de cena (design de produção) e as próprias figuras dos atores em si.


E é sempre muito inspirador sermos afetados por obras que acima de tudo se postam como conscientes exercícios de forma e sentido. De modo que nenhuma das duas coisas estejam desentrelaçadas. Isso é o que o curta traz de mais valoroso na sua gênese. Há a fotografia primorosamente executada por Irene Bandeira, mas esse dado técnico está intimamente ligado à proposta máxima o filme. Por isso que a câmera segue a deriva desses corpos que correm, escalam, saltam, gritam (onde está Caio?) e param, sem deixar de ser um braço técnico em termos de uma produção imagética que não oscila em sua natureza e proposta.


Nisso, cada plano e enquadramento atuam juntos para a construção da narrativa. Por vezes tecida apenas por aquilo o que as imagens do quadro nos conta. E em outros momentos a partir do poder de interpretação dos atores em suas falas, que positivamente muito nos lembram as tradições dos mestres de ontem, no caso de Ingmar Bergman e Alfred Hithcock; e os de hoje, quando lembramos dos longos diálogos em planos estendidos nas obras de Richard Linklater.


Isso é a experiência do cinema na sua forma mais bem acabada. Ela é direta sem deixar de se apropriar do poder que a subjetivação do discurso detém. Ela é extremamente relevante, e brilhantemente desenhada a partir de uma pseudo lógica do descompromisso. É emergente, entendendo que a melhor forma de se colocar em pautas as questões do contemporâneo é por meio da sutileza intertextual. Uma vez que o cinema é senão o espelho de uma construção cotidiana.


Assista ao filme completo abaixo



 
 
 

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