The Flash: a adaptação como elemento reimaginário no cinema
- danielsa510

- 20 de jun. de 2023
- 2 min de leitura

Direção: Andy Muschietti. Roteiro: John Francis Daley, Joby Harold, Jonathan Goldstein, Christina Hodson. Produção: Bárbara Muschietti. Montagem: Jason Ballantine, Paul Machliss. Fotografia: Henry Braham. Efeitos Visuais: Brad Minnich. Som: Brandon Jones. Música: Benjamin Wallfisch.
Na historiografia recente dos filmes do subgênero super-heróis, o universo compartilhado deixou de ser um problema há algum tempo. Quando vamos considerar a experiência das histórias em quadrinhos de 1980 ao começo dos anos 2000, essa é uma lógica bastante aperfeiçoada desde então.
Na intenção de se adaptar a narrativa de "Flashpoint", publicada pela DC Comics em 2013, Andy Muschietti parte dessa premissa adaptativa para reimaginar essa lógica dos crossovers no formato cinema. É engraçado, nesse sentido, imaginarmos quantos filmes diferentes desse seria possível.
Mas na impossibilidade disso, há um filme só. E nesse, ele opera no equilíbrio entre um tom mais relacionado à comédia em paralelo com questões de tonalidades mais dramáticas.
Há o tempo da piada, da gag e o instante de um estar mais reflexivo e denso, quando consideramos determinadas questões por que passam os personagens.
Claro que isso não tem nada a ver com a intenção de obra soar ultracomplexificada, mas tão somente modulada entre esses dois polos de atenção. Uma outra coisa que chama bastante atenção é a própria ausência desse ente vilanesco.
Os heróis estão lidando com todas as questões inerentes ao universo, ou aos múltiplos universos que a história apresenta, mas não há essa figura central de oposição na trama. O principal problema enfrentado por Allen é essa ausência estabelecida no seio da sua família.
E no meio disso ele vai ter vai ter de enfrentar esse trauma ao mesmo tempo em que acaba tendo de se confrontar com os efeitos dessa vilania, que é base para as narrativas de super-heróis no cinema. Acaba sendo também uma história de amadurecimento porque nessa multiplicidade de versões do "eu" desse protagonista, ele acaba tendo de fazer se entender para si mesmo.
E aí esse Barry Allen mais maduro acaba sendo essa presença de referência para o seu Barry Allen mais imaturo. É nisso também que o filme em si se mostra mais coeso e até honesto quando o comparamos com qualquer obra feita pela Marvel Studios de 2019 para 2023.
Mas nos detendo somente a esfera de produções da DC e Warner, o longa de Muschietti também leva o mérito de funcionar por si mesmo. Porque ele independe, estruturalmente falando de outros trabalhos pregressos do estúdio. Pensar a figura do Batman, por exemplo, reflete muito isso.
As versões desse herói estão soltas ao longo do filme, mas elas se limitam, salvo uma exceção, a esse estado de rememoração. Ou seja, desse passeio entre os anos 1980, 1990 e de 2010. Importante ressaltar novamente: nada que coloque este filme como um êxito inexorável do subgênero.
As aparições dos personagens, com alguma reserva à própria figura do Batman em si, atuam quase que subitamente com uma espécie de comentário rápido sobre as nuances desse universo que a obra explora. A colisão de mundos, na verdade, denota apenas o easter egg.
É essa nota de rodapé escrita para o espectador referencial. E de certo modo isso também não deixa de ser uma forma de um filme se bastar por si. Para os filmes do subgênero super heróis tal decisão não deixa de ter seu valor.



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