Tipos de Gentileza: do cinismo enquanto condicionante narrativo
- danielsa510

- 15 de set. de 2024
- 2 min de leitura

Direção: Yorgos Lanthimos. Roteiro: Efthymis Filippou, Yorgos Lanthimos. Direção de Fotografia: Robbie Ryan. Som: Phillip Bladh. Música: Jerskin Fendrix. Montagem: Yorgos Mavropsaridis. Direção de Arte: Chris Cornwell. Efeitos Visuais: Sebastian Barker, Bhumika Mayer. Produção: Ed Guiney, Andrew Lowe, Daniel Battsek.
Quando a crítica especializada refletiu sobre a expressão que, de certa forma, daria conta do movimento de filmes produzidos na Grécia entre o final da primeira década de 2000 e o começo dos anos 2010, o estranhamento foi tido como um índice determinante no contorno de cada um dos filmes que compôs o movimento.
Acompanhando e inserindo-se nessa perspectiva, Yorgos Lanthimos desenvolveu uma trilha fílmica muito pautada nessa perspectiva para tentar dar conta dessa espécie de apresentação em forma de narrativa dos problemas e contradições as quais o país estava inserido naquele começo de século.
A crise, portanto, foi um elemento de combustão fértil para o processamento de obras que reverberaram parte dessa complexidade política e cultural daquele povo.
Passado esse tempo, e analisada sob a ótica de um conjunto isolado, a filmografia do diretor seguiu um curso bastante homogêneo na aferição e responsividade desse estar estranho do mundo contemporâneo.
Falar do mundo aqui se torna essencial porque, assim como muitos movimentos e trabalhos na historiografia do cinema que flertaram com uma lógica menos naturalista do estar "real", os filmes do realizador grego se universalizaram no que diz respeito à sua própria inserção nos mercados internacionais da prática cinematográfica.
Por um outro lado, essa expansão dos limites da produção consequentemente foram ao longo dos últimos 15 anos incorporando o universalismo dessa intercambiação e prescindindo, a esse mesmo passo, de uma autenticidade que era característica dessas narrativas onde a crítica dos costumes e a radicalização na forma de apresentação dos trabalhos marcavam os filmes numa chave contextual mesmo.
Olhando para esse novo projeto, é como se houvesse uma intenção que remetesse ao Lanthimos daquele período, mas jamais uma lógica se manifestasse ali.
Os trípticos que constituem o longa-metragem têm linhas discursivas e de modulação estilísticas que nos permitem alguns entrecruzamentos, mas esse é um exercício que surge mais da associação correlacional do que de uma proposição autoconsciente. E isso tira bastante força do filme enquanto uma peça única.
Não é nem tanto sobre a questão do sentido, uma vez que cada uma das três parábolas parecem não apontar para uma ideação racionalidade que seja. Mas também não parece mais do que sugerir esquetes desse estar esquisito no mundo.
Claro que, às vezes, o cinema só nos pede isso mesmo, mas o risco de se pender para um condicionante do cinismo sempre parece maior quando ao realizador carece o elemento crítico e relacional com as coisas, os indivíduos e a situações presentes no mundo.



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