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All Hands on Deck: filme de verão, estória de sossego

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 21 de dez. de 2021
  • 2 min de leitura

Direção: Guillaume Brac. Roteiro: Guillaume Brac, Catherine Paillé. Montagem: Héloïse Pelloquet. Direção de Fotografia: Alan Guichaoua. Figurino: Marine Galliano. Produção: Grégoire Debailly. Som: Emmanuel Bonnat.


Como medir um filme perfeito? Certa vez ouvi de uma colega que isso poderia ser feito a partir da emoção que a obra nos causaria. Obviamente que, nesse nível que a pergunta coloca, esse não pode ser tomado como um parâmetro. Mas considerando o estilo das narrativas de Guillaume Brac, parte das respostas estão na sua assinatura.


Esse filme de verão, com uma estória relativamente de sossego, se encaixa e ativa muito desse sentimento de projeção e reconhecimento a partir do nosso estado espectatorial. De onde parte tudo isso, afinal? Impossível não associarmos os seus gestos àqueles que movimentaram grande parte das motivações de grandes mestres como o próprio Eric Rohmer.


Importante ressaltar sempre que, nesse caso, não falamos de mera emulação arbitrária do estilo rohmeriano de se contar histórias. Nesse exercício da reflexão do espelhamento, tudo remete aos mesmos códigos dos grandes filmes das dramédias francesas setentistas. A natureza executa um importante papel nessa estrutura de base.


A costa da França, os inícios de manhãs e fins de tarde, bem como os espaços explorados pelos personagens entre rios, campos e a própria urbes, são parte da estratégia narrativa que legitima cada momento do filme de modo geral. Ao mesmo tempo, impossível não falarmos das conexões, interações e atravessamentos dos personagens do filme.


Interessante que esses embricamentos não surgem também de modo espontâneo. Há toda uma gradação que os conduzem uns aos outros. Nada é perfeito, ainda que tudo soe nesse clima de consonância inquebrantável. Por vezes ele se rompe mesmo. Uma ligação mal interpretada, uma palavra dita em um mal momento, tudo pode ser índice para a ativação de um problema.


Ainda assim, Brac sugere e coordena mais a modulação nos intervalos entre esses instantes de bons e maus momentos. O alvo reside mesmo no propósito do crescimento da persona dessas figuras. Uma vez que tanto Félix, quanto Chérif, Édouard e os outros personagens da trama, passam por essa mudança numa estratégia circular evolutiva mesmo.


Eles não concluem suas jornadas do mesmo modo como enquanto foram introduzidos. Mais que isso. Quando os créditos finais surgem na tela, não sentimos como se todos eles tivessem "resolvido" suas questões. Na verdade, a impressão que temos é de que um novo começo está apenas por vir.


Esse é o modo como o bom cinema contemporâneo, a exemplo daqueles executados desde o início da aventura desta arte, têm feito. Por isso o filme de Brac é tão bárbaro, marcante.

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