A Grande Testemunha: quando nos prostramos diante do cinema
- danielsa510
- há 3 dias
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Até onde um filme pode nos pressionar numa experiência dialética entre o ato de estarmos diante dele passivamente ou ativamente? Essa pode ser uma das questões base do filme. Robert Bresson foi um dos maiores mestres da arte do cinema e a assinatura das suas obras reforçam isso muito contundentemente.
Sabendo disso, como então decodificarmos nossa posição diante uma obra que te desafia a partir de um jogo de identificação e desidentificação? Você se identifica com o animal pelo protagonismo inoperante da sua condição. Mas também se entrega a essa figura pela sua capacidade de transmitir, a partir da construção de cada nova camada do filme, uma ideia de trilha marcada pela violência e a exploração.
A partir de uma proposição quase microcósmica, o filme te apresenta personagens que não estão ali para nos inspirar, pelo contrário, a tolerância a essas figuras se torna cada vez mais impossível dada a incapacidade de qualquer retorno escapista daquilo o que eles são em essência.
Não há redenção para essas figuras. A garota que inicia uma jornada assinada pela luxúria e o egoísmo, não é apenas um arquétipo de alguém ruim, ela é parte de um macrocosmo inviável de pessoas desgraçadas pelas escolhas que tomam e pelo tempo em que vivem. A desesperança só não parece ser esvair pelos olhos do protagonista, o burrinho. Ficamos com ele até o fim e entendemos que apesar da jornada ser quase interminável, há um plano em que ele enfim descansará.
Esse é o frame que impregna na retina do olho, da mente e do coração daqueles que se prostram diante do cinema da totalidade. E essa é a arte de autores míticos, assim como fora Robert Bresson.
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