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A Noite das Bruxas: considerações sobre um cinema de amenidades



Direção: Kenneth Branagh. Roteiro: Agatha Christie, Michael Green. Montagem: Lucy Donaldson. Direção de Fotografia: Haris Zambarloukos. Produção: Ridley Scott. Direção de Arte: Peter Russell. Música: Hildur Guðnadóttir. Som: James Hayday.


Penso que o problema do filme em si não seja nem a condução da trama. Na ordem da obra de suspense, Branagh até concilia bem determinados elementos. Há uma atmosfera de estranhamento que percorre o curso dos eventos na sua totalidade e mantém seu ritmo numa determinada constância até sua conclusão.


Mas esse traço em si jamais imprime um senso de distinção no longa, sobretudo pelo tom "espertinho" escolhido para determinar boa parte dos personagens. É como se quase todos fossem impossíveis de ser lidos ou vistos como figuras "críveis", em um sentido de querermos estar perto deles, saber mais a respeito à medida que a narrativa se desenrola.


De fato, a impressão que temos é que todas as falas, por exemplo, também já estão dadas. Mais problemático que isso, certamente, talvez seja a própria decisão de Kenneth em dizer ao invés de mostrar. Diferentemente da literatura, o cinema encontra sua maior força e forma de expressão no modo como as situações são descritas na prática ou no modo como ocorrem.


São inúmeras as vezes em que vemos alguém na trama, literalmente, contando algo ocorrido de modo, muitas vezes, retórico. Quando pior, a fala da figura em si somente acontece para ilustrar algo que a direção parece não conseguir colocar em cena por meio daquilo o que o cinema pode e deve fazer de melhor, que é alinhar conceitos com imagens.


O filme parte dessa ideia dos romances de Christie, mas não entende que a literatura opera de formas distintas em comparação com a arte do cinema. Claro que Branagh entende isso e a pena é só o fato de ele não conseguir operar essas escalas a contento que os melhores autores e obras fizeram e fazem.


Vermos a prática de realizadores como Bresson, Rivette ou Bergman é percebermos tudo isso. Ver um personagem falando pode não ser um problema. E para esses autores era um exercício mágico. É na inconsistência desses parâmetros que a então trilogia da 21th Fox peca.


E aqui, essa verborragia de Poirot e dos demais personagens apenas parece camuflar uma incapacidade do trabalho de colocar a verve como uma técnica mesmo, uma arte da dialética entre o exercício do convencimento e essa busca pelo o que seria "a verdade" no universo da encenação sustentada pelo cinema ficcional.

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