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Assassinos da Lua das Flores: o problema da passividade na ficção historiográfica


Direção: Martin Scorsese. Roteiro: Eric Roth, Martin Scorsese. Produção: Dan Friedkin, Martin Scorsese, Daniel Lupi, Bradley Thomas. Montagem: Thelma Schoonmaker. Fotografia: Rodrigo Prieto. Design de Produção: Jack Fisk. Som: Marko Costanzo. Música: Robbie Robertson


Em verdade, Assassinos da Lua das Flores (2023) é um filme bem mais organizado narrativa e dramaturgicamente do que Silêncio (2016) e mais direto e objetivo que O Irlandês (2019). Uma obra que soa contemporânea por entender que a remontagem das trajetórias dos Estados Unidos enquanto nação moderna passa pela integração da presença dos povos originários do país.


O problema, de fato, é esse lugar de passividade extrema com que Scorsese coloca os Osage. Como se esse estado de "centralidade" do grupo emergisse muito mais via "causa" ao invés do componente prático com o qual essas figuras poderiam reagir diante de todos os eventos estabelecidos pela ficção na sua totalidade.


Nem mesmo essa espécie de catarse final se concretiza, talvez como modo de o diretor pontuar a desgraça daquele povo a partir do tom de "denúncia" que o epílogo propõe. Mas seria mesmo isso? Porque quando o autor se põe em cena é como se tudo o que veio a reboque sedimentasse esse tom figurativo das mortes que aconteceram na tela.

Se um corpo estirado no chão pode denotar a crueldade de uma terra sem lei, ele remonta, aqui, muito mais a essa gratuidade da esfera representacional dessa tradição cinematográfica narrativa estadunidense do que a crítica estrita que a dinâmica contemporânea sugere.


O filme, nesse caso, se afasta mais do conceito proposto por Giorgio Agamben e se alinha muito mais a um fazer local e próprio da ficção enquanto exercício artístico mesmo. Uma vez os filmes não terem a capacidade redentora de mudar os eventos cursivos das problemáticas do mundo, eles podem apontar linhas de inserção de um pensamento sobre a produção de subjetividades dos personagens construtores das tramas de uma nação como a norte-americana.


Mas quem são esses protagonistas? Não nos parecem verdadeiramente os Osages. Eles estão ali - como esse corpus problematizador da violência presente naquele espaço - mas não nos parecem mesmo o tema e o fim do trabalho. Quando nos voltamos somente para a reflexão da autoria no fazer de um realizador experiente como Scorsese, restam poucas dúvidas da sua relevância dentro de uma perspectiva de um cinema mais narrativo.


Alocando-o em direta rota de comparação com outros autores como Quentin Tarantino, Christopher Nolan ou Paul Thomas Anderson, por exemplo, ele segue uma lógica de alternância em uma trilha do que poderíamos nomear como sendo de "resistência". Não são outros cinemas, não nos enganemos.


Mas presumem essa crença na presença de histórias outras ou narrativas mínimas em um sentido ao modo como Hollywood drena a criatividade e liberdade dos autores ante aquilo o que a indústria do entretenimento supõe e ao que o público demanda.

Curiosamente, em se falando na reação como modo de entendermos as expressões dos personagens, vale demais a decisão de não naturalizar a forma como eles reagem aos eventos, pelo menos no sentido de quem contesta uma prisão, por exemplo.


Diferentemente do discurso menos sofisticado de diretores como David Gordon Green, essa vertente da escala dramatúrgica contemporânea resguarda uma sobriedade muito específica na experiência do cinema mainstream, dado todos os vícios dessa bandeira do audiovisual em nossos dias.

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