Direção: Luchino Visconti. Roteiro: Luchino Visconti, Cesare Zavattini, Suso Cecchi d'Amico, Francesco Rosi. Produção: Salvo D'Angelo. Montagem: Mario Serandrei. Fotografia: Piero Portalupi, Paul Ronald. Som: Ovidio Del Grande. Música: Franco Mannino, Gaetano Donizetti
Tudo o que resta para a grande maioria das figuras do Neorrealismo Italiano parece ser a dignidade. Longe das idealizações que a lógica da "busca do sonho" pode nos inferir, aqui esses homens e mulheres querem tão somente estar em um estado de quitação Ãntima consigo mesmos.
É como se elas entendessem - como verdadeiramente entendem - que viver isso está além da ideação esquizofrênica da busca. Por isso se enterram na realidade a que se inserem a fim de estar presente verdadeiramente nessa tarefa.
E a exemplo do que De Sica propõe em Ladrões de Bicicleta (1948), Visconti está interessado na operação dessa equação em dois termos. Um relacionado a essa modulação por que os personagens tÃtulo devem passar, nesse caso a mãe e a filha.
O que Madalena quer, a princÃpio, é alçar Maria a esse universo da artes da mÃdia, mas não por um Ãmpeto de vaidade desmedida. Algo que fica bem claro mas próprias palavras dela enquanto responsável pela pequena. Todo o percurso que ambas fazem ao longo do filme fala disso.
Mas também a respeito do quanto a dignidade é mais que uma bandeira temática para a reafirmação do valor desse cidadão comum nos pós-guerra europeu. Respeito esse que não tem a ver com a valoração de uma perspectiva moralista ou mesmo conservadora. Esses personagens estão muito acima disso.
E ainda que todos pareçam orbitar nessa esfera incessante de agenciamentos, conflitos e confrontos da vida cotidiana, esse conjunto de posições são a medida exata que complementa a veia verborrágica da obra na sua totalidade. A fala é um recurso quase inesgotável para todos.
Dos gerentes da companhia de cinema à s inquilinas do prédio onde a famÃlia de Madalena mora. Curioso como Visconti decide, como última arma da protagonista, calá - la diante do fim do trajeto. Mas a heroÃna não seria quem ela o é se não compreendesse o saldo desse processo.
"Maldito cinema", diz o marido, Spartaco Secconi, externando o resultado da expressão antirreflexiva viscontiniana diante do seu próprio fazer. A beleza disso tudo vem da lucidez disso se entender.
A grandeza de um autor se ratifica diante isso. Tudo podem tirar de um tipo ordinário como a senhora Secconi e sua filha, mas não sua dignidade. Não a desses personagens imemoriáveis.
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