top of page
  • Foto do escritordanielsa510

Bellissima: a dignidade como recurso último da existência


Direção: Luchino Visconti. Roteiro: Luchino Visconti, Cesare Zavattini, Suso Cecchi d'Amico, Francesco Rosi. Produção: Salvo D'Angelo. Montagem: Mario Serandrei. Fotografia: Piero Portalupi, Paul Ronald. Som: Ovidio Del Grande. Música: Franco Mannino, Gaetano Donizetti


Tudo o que resta para a grande maioria das figuras do Neorrealismo Italiano parece ser a dignidade. Longe das idealizações que a lógica da "busca do sonho" pode nos inferir, aqui esses homens e mulheres querem tão somente estar em um estado de quitação íntima consigo mesmos.


É como se elas entendessem - como verdadeiramente entendem - que viver isso está além da ideação esquizofrênica da busca. Por isso se enterram na realidade a que se inserem a fim de estar presente verdadeiramente nessa tarefa.


E a exemplo do que De Sica propõe em Ladrões de Bicicleta (1948), Visconti está interessado na operação dessa equação em dois termos. Um relacionado a essa modulação por que os personagens título devem passar, nesse caso a mãe e a filha.


O que Madalena quer, a princípio, é alçar Maria a esse universo da artes da mídia, mas não por um ímpeto de vaidade desmedida. Algo que fica bem claro mas próprias palavras dela enquanto responsável pela pequena. Todo o percurso que ambas fazem ao longo do filme fala disso.


Mas também a respeito do quanto a dignidade é mais que uma bandeira temática para a reafirmação do valor desse cidadão comum nos pós-guerra europeu. Respeito esse que não tem a ver com a valoração de uma perspectiva moralista ou mesmo conservadora. Esses personagens estão muito acima disso.


E ainda que todos pareçam orbitar nessa esfera incessante de agenciamentos, conflitos e confrontos da vida cotidiana, esse conjunto de posições são a medida exata que complementa a veia verborrágica da obra na sua totalidade. A fala é um recurso quase inesgotável para todos.


Dos gerentes da companhia de cinema às inquilinas do prédio onde a família de Madalena mora. Curioso como Visconti decide, como última arma da protagonista, calá - la diante do fim do trajeto. Mas a heroína não seria quem ela o é se não compreendesse o saldo desse processo.


"Maldito cinema", diz o marido, Spartaco Secconi, externando o resultado da expressão antirreflexiva viscontiniana diante do seu próprio fazer. A beleza disso tudo vem da lucidez disso se entender.


A grandeza de um autor se ratifica diante isso. Tudo podem tirar de um tipo ordinário como a senhora Secconi e sua filha, mas não sua dignidade. Não a desses personagens imemoriáveis.


Assista ao filme completo no canal Film & Clips


2 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page