Direção: Win Wenders. Roteiro: Wim Wenders, Takuma Takasaki. Montagem: Toni Froschhammer. Direção de Fotografia: Franz Lustig. Produção: Wim Wenders, Takuma Takasaki. Som: Matthias Lempert.
Acho injusto limitar a interpretação do filme de Win Wenders a uma narrativa "preguiçosa" sobre um homem que lava banheiros no Japão. Acredito que, partir desse ponto de vista é atomizar a proposta da obra em uma leitura simplista e até conservadora. Pensar a experiência do cinema nos dias de hoje é também considerar o modo como olhamos para esses trabalhos.
O que leva um realizador a desejar contar determinada estória de um modo específico que seja ou como ele chega à concepção final do modo como entende que o projeto deva vir a ser? São questões, muitas vezes, a frente daquilo o que o espectador ou o analista mais especializado devem considerar nas suas aproximações com a forma da arte.
Isto posto, chegamos no filme com a certeza máxima do papel que o diretor alemão assume na historiografia do cinema. Ele não tem mais nada a provar na prática do ofício ou na expressão artística que seja, mas por alguma razão, decide se voltar para uma narrativa mínima na sua abordagem conceitual e relativamente complexa na sua proposição em termos de estrutura fílmica (o tempo é uma base importante desse processo).
Falar desse minimalismo narratológico está muito relacionado à centralidade dos eventos na figura do protagonista em si. Não há nada de novo, aqui. Mas é interessante notarmos esse contrabalanceamento que Wenders faz ao modular os micro-hábitos de Hirayama com o todo do filme quando consideramos aqui os seus seguidos capítulos.
Talvez seja justamente essa proposta de encaixe o detonador desse estranhamento entre o sentido e a forma do filme ao considerá-los justapostos. Não é que isso o invalide na totalidade, mas gera um certo descompasso no modo como o lemos no todo. Porque passadas suas 2 horas e 10 minutos, ficamos com a impressão de que tudo aquilo poderia ter sido apresentado em 1 hora e 23 minutos.
Uso aqui a referência do modo como Gus Van Sant, por exemplo, condensa a proposta de Paranoid Park (2007) fazendo justamente o que Wenders idealiza aqui, mas com a diferença de proporção e precisão no ato da realização audiovisual.
Uma vez que o realizador até pode experimentar sobrepor um roteiro relativamente "simples" e constituído de eventos a serem contados em uma ordem bem direta, mas sem deixar de considerar, também, o risco de tencionar tal arranjo com um desejo de fragmentar a narrativa de alguma forma, fraturá-la ou mesmo desvinculá-la a uma linha cursiva qualquer.
Se destituir disso é assumir outras formas de ver os possíveis que a narrativa fílmica se permite. o que nos leva a considerar, por fim, que tudo bem Wenders ficar apenas com a repetição da vida mesmo. A seus modos, incontáveis autores e artistas ao redor do mundo têm se debruçado nesse exercício. Na Ásia mesmo, Sang-soo, construiu um legado imensurável nessa perspectiva.