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Dreams: Sonhar acordado para despertar na realidade

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • há 5 minutos
  • 3 min de leitura
Crédito: Berlinale
Crédito: Berlinale

Direção: Dag Johan Haugerud. Roteiro: Dag Johan Haugerud. Direção de Fotografia: Cecilie Semec. Som: Gisle Tveito, Yvonne StenbergDesign de Produção: Tuva HølmebakkMúsica: Anna Berg. Produção: Yngve Sæther, Hege Hauff Hvattum. Montagem: Jens Christian Fodstad.


Escrito e dirigido pelo realizador norueguês, Dag Johan Haugerud, Dreams (2024) é um ótimo modelo de como o cinema contemporâneo pode, tanto no nível dos seus temas quanto dos parâmetros estéticos, mobilizar um pensamento sobre os caminhos possíveis da arte. Mas não somente isso, evocar uma relação mais direta com o espectador a partir de determinados jogos de percepção.


Um primeiro ponto disto estaria relacionado ao modo como o filme se apresenta dentro de uma construção bastante autoconsciente. Há uma dinâmica de interação que rompe com a própria malha diegética da realidade apresentada pelo filme e que não estaria vinculada a qualquer intenção relacional de engajamento espectatorial que seja.


Há vários momentos dentro dessa proposta que ilustram bem essa decisão. Um dos mais marcantes é na sequência onde duas personagens estão discutindo o teor do conteúdo de um texto escrito por uma outra pessoa.


Uma música de tom bem dramático e marcante ressoa ao fundo preenchendo toda o segmento de um forte senso de urgência, quase sinestesicamente sufocante. Até o instante em que uma das personagens pergunta se pode desligar a música que estaria tocando no outro cômodo da casa. Há um corte. E na cena seguinte vemos o aparelho de som sendo desligado. Brilhante.


Ou seja, de modo abrupto, entendemos que aquela banda sonora que preenchia todo o recorte da cena se tratava, na verdade, de um recurso diegético, estava inserido na realidade daquela situação. Essa quebra repentina do tom da atmosfera fílmica é retomada em várias outras partes do filme.


Quase como um aviso de Dag Haugerud de que estamos diante de um filme, um trabalho ficcional. Esse exercício em torno da escala da ficção e seus limites parece ser o que faz o filme ser tão cinematográfico, por mais irônico que isso aparente ser.


Temos consciência o tempo todo de estarmos diante de uma experiência ficcional, que parte da realidade para se reelaborar enquanto especulação desse mesmo estado.


O fato de o próprio filme não se permitir enquadrar dentro do tema em si, ou daquilo o que os sonhos podem vir a ser nas nossas vidas, também diz da maturidade com que o diretor lida com as dimensões de sentido e forma fílmicas. As correlações jamais são óbvias, previsíveis, ainda que a estrutura semi-fragmentada nos dê falsas pistas a respeito disso.


Talvez nem seja o fato de serem "falsas", uma vez que o filme é muito honesto em relação a tudo o que ele anseia tensionar a partir da questões que as personagens trazem nas dinâmicas de uns com outros.


É tão simples, direto e inundado de sensibilidade que quando retornamos para o estado de consciência sobre o filme, sempre nos entranhamos um pouco mais no fluxo dos discursos ali estabelecidos.


Certamente, uma das melhores tradições deixada por autores como Bergman ao longo de todo o século passado. Penso que, assim como Joaquim Trier tem feito nos últimos anos, Haugerud costura muito bem esse drama cuja sobriedade nunca se anula dentro de si mesmo e sempre parece aberto a uma modulação em cima daquilo que o naturalismo permite.


Não há como sair do filme sem se sentir modificado após a escalada dos créditos finais. Atravessamos um túnel, saímos do outro lado, assim como Johanne e todas as mulheres desse melodrama do futuro. Simplesmente mágico.

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