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Fale Comigo: temer o escuro, abraçar a maldade


Direção: Michael Philippou, Danny Philippou. Roteiro: Danny Philippou, Bill Hinzman. Produção: Miranda Otto. Montagem: Geoff Lamb. Fotografia: Aaron McLisky. Música: Cornel Wilczek. Maquiagem: Josh Head. Som: Emma Bortignon. Efeitos Visuais: Marty Pepper.


Temer o escuro é uma condição central na definição daquilo o que os personagens do filme são ou do modo como eles podem ser lidos, entendidos. O temor ao desconhecido nem chega a ser uma questão a princípio, mas se torna, também, um elemento de irreversibilidade à medida que essas figuras vão traçando seus trajetos na narrativa.


Não há essa tendência a um cinismo aparente, seja na ordem da diegese - ou da realidade fílmica - ou na impressão que a narrativa expõe ao espectador. É uma obra bem diretiva, nesse sentido. Tem uma metragem breve em seus 90 minutos de duração e cada terço do tempo dá conta de apenas uma coisa por vez.


Do prólogo para o problema central e deste para os encaminhamentos que os eventos que o sucedem estabelecem até a conclusão da trama, resiste essa intuição de um mal que nunca dorme. Uma maldade que não necessariamente se vincula a um monstro, entidade ou coisa similar.


Há tudo isso também, mas os "Philippous" preservam muito bem a redistribuição desses elementos ao longo do filme como um todo. Não é como se a história ficasse se reiniciando no intervalo entre os capítulos. Claro que isso é uma questão de estilo. Um trabalho capitular, por exemplo, pode fazer muito bem isso sem prejuízo da sua ordem final.


O cinema de Jacques Rivette, Roy Andersson ou Gus Vant Sant sempre fez isso competentemente. A questão não é tanto a noção de repetição e sim dos modos como essa estrutura revela, no interior do filme em si, um todo orgânico, fechado no compromisso da mensagem principal do filme e na reflexão que ele decide encarnar. E no caso do cinema de gênero, geralmente é a impressão de acerto que ecoa ao fim de tudo quando esses índices se alinham sincronicamente.


O horror é a premissa-base de onde tudo parte e se encerra. E assim como os melhores modelos de cinegrafia do século passado e desse novo milênio, o filme opta por manter uma intenção de respeito ao espectador sem subestimá-lo. Do outro lado da tela, aquele que está diante da obra pode lidar bem com proposições como a que envolve a aceitação desse mal estabelecido.


Afinal, cada vez mais, essa vertente do cinema de terror/horror contemporâneo não se priva de sugerir que seus personagens talvez não tenham salvação nesse universo de arritmia do estado das coisas em uma ficção.


Na experiência desse gênero cinematográfico dos últimos 20 anos - de Pulse (2001) a "O Homem Invisível" (2020) - o que os filmes têm nos ensinado é entender essas narrativas como parábolas sobre as raízes, os efeitos e consequências do mal na nossa sociedade.


De fato, são grandes motes para o estabelecimento de uma conexão mais duradoura permitida pelo nosso contato com esses trabalhos. O importante, aqui, é entendermos que a ideia da luz no fim do túnel não necessariamente tenha de significar alguma suposta redenção para os dias de um protagonista, geralmente as figuras mais desgraçadas desses excelentes filmes em questão.


Apesar da centralidade que eles assumem em cada título, fica bem marcado o quanto a questão passa mesmo por essa virada perceptiva de que o fim não precise ser obrigatoriamente feliz. Ele só tem de ser justo. E cada um desses filmes têm entendido isso.


É menos catarse e mais sobriedade na aceitação do melhor modo de se resolver as quebras de normatividade no modelo de representação fílmico ou nos clichês cinematográficos trazidos por todos esses personagens, também. Isso, Michael e Danny Philippou entenderam bem.

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