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Folhas de Outono: os amores do novo mundo

Direção: Aki Kaurismäki. Roteiro: Aki Kaurismäki. Montagem: Samu Heikkilä. Direção de Fotografia: Timo Salminen. Produção: Aki Kaurismäki, Reinhard Brundig. Som: Heikki Kossi.


Os encontros e desencontros da vida são umas das principais matérias-primas do cinema de Aki Kaurismäki. Aqui, o diretor opera o milagre de colocar lado a lado, as perspectivas de vidas proletárias em consonância com um espaço-tempo positivamente disfuncional.


Vemos personagens inseridos no século XXI, mas sem a obrigatoriedade de as entendermos como figuras do futuro. A única referência disso, um rádio analógico que intermitente noticia relatórios da guerra na Ucrânia.


Por um outro lado, a dinâmica da vida nessa Finlândia contemporânea é pautada pela esquematização neo-liberal. O trabalho vem para, não necessariamente dar um sentido à vida dessas pessoas, mas definir, a depender do modo de viver individual, como seguir sendo minimamente humano em meio ao enrijecimento das relações laborais pós-modernas.


Para colocar essa construção em primeiro plano, o cidadão comum conduz a trilha narrativa do princípio ao fim. Jamais saímos do lado deles. Tomamos café da manhã com eles, jantamos, saímos por aí, vamos ao trabalho, ao cinema, ao parque, vivemos.


E mais que isso, surpreendentemente, vemos a vida sendo construída nas suas mais específicas nuances. Nessa proposta de um cinema conceitualmente desdramatizado, não cabe hipervalorizar problemas porque a própria estrutura gramatical do filme não se apoia nisso. Ao contrário, ele se desvincula de toda e qualquer norma melodramatizada para lidar com os eventos - não com frieza - mas objetividade.


"Eu convivi minha vida toda com um irmão e pai bêbados", diz algo parecido Ansa à Holappa, que responde subitamente: "E eu não nasci para receber ordens". O homem pega seu casaco e sai pela porta da pequena casa que até pouco tempo atrás havia hospedado um jantar singelamente romantizado.


A protagonista se levanta da mesa, pega o prato comprado especificamente para a ocasião e o joga no lixo. Sabemos que é uma história de amor, mas a exemplo da maioria dos romances presentes em outras obras do diretor, o acaso modula o curso dos eventos.


A tragédia desses enlaces são o modo como os imprevistos criam as situações-base para o platonismo em construção. São amores de um novo mundo. Imaginado para ser perfeito, mas modulado por uma abordagem perfectiva, tal qual o cinema do futuro deve ser. Kaurismäki entendeu tudo. Fim.

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