Direção: Sean Durkin. Roteiro: Sean Durkin. Montagem: Matthew Hannam Direção de Fotografia: Mátyás Erdély. Produção: Tessa Ross. Som: Matthew Chan. Direção de Arte: Mark A. Terry, Sammi Wallschlaeger. Música: Richard Reed Parry.
É bem mais lúcida e intimista, até, a abordagem que Sean Durkin oferece para a sua reconstituição dos eventos vividos pelos Von Erich. Gosto particularmente como ele usa a estrutura do biópico para pontuar uma reflexão não centrada exclusivamente no apelo trágico.
O filme tem a restituição dos eventos da vida como uma base, mas não se contamina pelo desejo apelativo ou hiper condicionado à banalização da violência por tudo o que envolve esses personagens. Há um senso de unidade dramática muito bom no sentido daquilo o que a figura de Kevin representa na obra ou na sua totalidade.
Não epenas por ele assumir esse lugar de protagonista ou narrador em segunda pessoa da trama, mas muito mais pelo modo como seu altruísmo opera quase como que uma ferramenta ou escala de modulação contra esses excessos presentes, seja na forma como os eventos dramatizantes ocorrem, seja no modo como os personagens reagem aquilo o que acontece nas suas vidas.
É justamente o que falta em Ferrari (2024), por exemplo. Essa concepção de um tom menos reativo dessas figuras em relação aos acontecimentos. Não é sobre a "frieza" em relação às provações vivenciadas, mas muito mais a respeito do modo como alguém atravessa o percurso nesse caminho a ser trilhado.
O mito que os personagens compartilham sobre a maldição de vidas marcadas tanto pela violência institucionalizada pelo esporte quanto por aquela perpetrada pela figura paterna e suas aspirações particulares e reelaboradas mediante a individualidade de cada um dos seus quatro filhos.
A tragédia, à propósito, parte também dessa perspectiva. Ou seja, de como o desejo autoimposto e a incapacidade de um indivíduo em lidar com as lacunas de objetivos não alcançados no passado reverberam nas desgraças ocorridas aos próprios filhos.