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Guerra Civil: a contraideologia diante do objeto fílmico

Atualizado: 29 de abr.


Crédito: A24

Direção: Alex Garland. Roteiro: Alex Garland. Montagem: Jake Robert. Direção de Fotografia: Rob Hardy. Produção: Andrew Macdonald. Design de Produção: Caty Maxey. Som: Robby Brown. Música: Geoff Barrow


Difícil a defesa do filme, principalmente quando consideramos a natureza anti responsiva e contra ideologizante que ele assume, ou melhor, deixa de assumir, sobretudo diante dos objetos nos quais ele se desdobra.


A guerra em uma proposta distópica abre uma multiplicidade de possibilidades que, quando não preocupada na verossimilhança de uma construção naturalista, e por isso, sem sentido para o trato daquilo o que o futuro sombrio aponta, adiciona vigor na prática da ficção científica e no drama bélico contemporâneo. Mas o que pode ter acontecido de errado no meio do caminho criativo de Alex Garland entre a realização de Devs (2020), Men (2022) e este mais recente filme?


Assim como todo equivocado trabalho de encomenda, o longa parece muito mais preocupado em lidar com as partes do seu corpus - no conjunto dos personagens e nas situações por eles vivenciadas - de um modo distanciado e pouco atento aos efeitos ou mesmo causas dos motivos que os levam a assumir determinada posição diante dos eventos por eles experenciados.


Por isso mesmo não podemos defini-lo, sequer, como um trabalho "feito para a luz reflexiva do ofício jornalístico contemporâneo enquanto espada da democracia". Isso porque no centro da narrativa poderiam estar bombeiros hidráulicos ou profissionais da tecnologia, como em Devs. o efeito de um sentido vivo e consistente da trama independe do arquétipo e sua valoração funcional no mundo.


Inseridos na malha ficcional, a única coisa que importa é a reposta que eles entregam nos contornos daquele contexto fictício e na mensagem que a peça artística emprega sob a forma de comentário do mundo em que nos inserimos.


Pensando um pouco sobre como isso se manifesta em Aniquilação (2018, por exemplo, fica bem definido que a causa final do filme é a jornada da desumanização do homem a partir do contato com a matéria extraterrestrial. Se os efeitos disso são o mal ou uma desconhecida forma de evolução, é um cenário que só se manifesta no exercício de interpretação e pós-percepção do espectador com a obra.


Bem e mal são zonas transitórias marcadas por ambiguidade e alguma esperança de um outro amanhã. Tópicos, infelizmente, ausentes nesse novo filme de guerra do diretor. No fundo, a única marca presente e desenvolvida nesses jornalistas e repórteres fotográficos é, de fato, a excitação mórbida pela violência, a desilusão diante da objetificação da tragédia e a falta de empatia diante da morte do outro.


Não a crítica que se fundamente na junção de objetos e motivações temáticas tão díspares. E se os personagens diante de nós são marcados apenas por isso, então não temos nada a aprender com eles ou nada com o que eles possam nos "inspirar", seja você uma pessoa do ramo da comunicação ou não.


São apenas figuras ficcionais mal desenvolvidas mesmo. Resultados diretos de uma construção cínica no sentido da proposta incapaz de assumir um ponto definido naquilo o que ela almeja questionar.


O saldo recai apenas em um trabalho que está muito mais alinhado em uma perspectiva descartável como algum episódio isolado das últimas séries lançadas pela HBO (The Last of Us, True Detective - Night Country) do que um exercício cinematográfico de reflexão sobre o que a guerra implica à dinâmica do mundo como nós o conhecemos ou iremos vir a conhecer.


Se o que resta é apenas isso, a distopia da atual visão de Garland aponta um caminho perdido na sua própria contradição estético-conceitual ao passo que critica sem a consciência de um trabalho que também não se leva a sério o bastante naquilo o que desejaria verdadeiramente dizer.


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