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John Wick IV: o caminho aonde termina o inferno

  • Foto do escritor: danielsa510
    danielsa510
  • 29 de mar. de 2023
  • 3 min de leitura


Direção: Chad Stahelski. Roteiro: Michael Finch, Shay Hatten, Derek Kolstad. Produção: Chad Stahelski, Keanu Reeves, David Leitch. Dublê: Laurent Demianoff, Jeremy Marinas. Montagem: Evan Schiff. Fotografia: Dan Laustsen. Direção de Arte: Chris Shriver. Música: Tyler Bates, Joel J. Richard. Som: Manfred Banach.


Chegado nesse ponto da série cinematográfica iniciada há quase uma década, não seria exagero dizer que o conjunto de filmes idealizados por Chad Stahelski cumpriu, nesse meio tempo, o papel que outros projetos como a trilogia Matrix assumiram no início dos anos 2000.


Nas duas décadas que separam o somatório dessas produções, o cinema de ação blockbuster hollywoodiano transitou entre distintos pólos. Das vias mais perceptíveis nessa dinâmica, a noção das possibilidades trazidas pelo uso da tecnologia e o apelo junto ao público nessa relação de adoração com o trabalho artístico parecem ocupar uma centralidade nesse debate.


É no encontro desse meio termo que a franquia John Wick orbita e se consolida, chegado esse ponto de inflexão do seu quarto capítulo. É o filme mais sólido da saga? Difícil respondermos dado o caráter de excepcionalidade que carregamos conosco sempre confortando o fato de estarmos diante de uma obra recém-lançada.


Para isso, vale colocarmos os filmes em si em perspectiva para fazer esse corpo a corpo com seus traços mais latentes. Porque se no capítulo de 2014 o projeto tinha esse tom pouco dado à lógica de algo mais singular, no trabalho seguinte, o capitulo 2 estabeleceu as bases da centralidade da "saga".


Interessante como a proposta do filme neo noir e de espionagem eram os pilares da proposta. Algo que se atomizou e expandiu ainda mais em Parabellum (2019). Não havia mais volta nesse ponto. E ao personagem de Wick, essa figura maldita, só restaria ir adiante até o fim.


Seguir nessa espécie de estrada cujo ponto derradeiro o conduziria única e inequivocamente aos portões do que podemos entender pelo seu inferno pessoal. Um campo do calvário muito bem projetado nesse quarto capítulo por Stahelski como uma dobra sem volta para o que ocorre e poderia ocorrer com esse protagonista.


Divulgação

E esse senso de emergência que o filme carrega consigo jamais exprime um ar de atropelamento na condução do modo como os eventos se sucedem. Da sequência de abertura até seu epílogo, tudo guarda esse tracejado de uma construção "grandiosa". Não por elementos da ordem mais básica como o design de produção e o uso dos efeitos visuais na elaboração de tantas cenas de ação tocadas à quinta marcha.


A gramática aqui obedece, realmente, a uma suposição muito mais alinhada à uma cartilha "Leoniana", no sentido de entendermos estar diante de um filme de bastante estofo. Tudo nos conduz para essa correlação com faroestes e mais especificamente Três Homens em Conflito (1964).


Não devido ao gênero, aos confrontos, às apostas, aos jogos de traição e códigos de honra inquebráveis. Mas muito pela organicidade com que a malha fílmica é tecida. Já que, apesar de não ser um épico nos termos da lei, essa parte IV se encadeia a partir de grandes blocos narrativos.


A preparação do herói, seu consequente ataque derradeiro e o efeito que esses atos acarretam para o universo ao seu redor. Tudo isso posto nas mãos de um personagem de poucas palavras. Assim como também Leone delegou a "Bronco", o destino daquele pedaço do Oeste imaginário e mítico por ele criado.


A questão aqui, é como Wick pode, enfim sair desse círculo frenético inciado pela quase impossibilidade de vivência do luto. A morte, sendo um símbolo determinante desse arquétipo (anti) heróico contemporâneo, risca todos os quatro longa-metragem feitos até então.


É uma constatação cantada por aliados, como fez Sofia: "uma hora dessas você vai morrer, John", ou por inimigos, como Killa: "por que você não morre?!". São proposições que não apenas se colocam como palavras de força de ação na diegese fílmica, mas que tensionam esse próprio lugar do cinema de ação e das franquias em Hollywood.


Como seria a melhor forma de se matar ou concluir um filme seriado em uma terra onde a continuidade presume o esgotamento total muitas vezes em detrimento àquilo o que a autoria estabelece.


Esses talvez seja uma das mais contundentes reflexões que esse John Wick nos coloca. E certamente é isso o que Stahelski, Reeves e os acionistas da Paris Filmes irão colocar na mesa a partir de agora.

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