John Wick: um novo dia para matar - os testes possíveis do gênero ação
- danielsa510
- 22 de fev. de 2023
- 3 min de leitura

Direção: Chad Stahelski. Roteiro: Derek Kolstad. Produção: Chad Stahelski, David Leitch. Montagem: Evan Schiff. Fotografia: Fraser Taggart, Dan Laustsen. Direção de Arte: Chris Shriver. Música: Tyler Bates. Som: Andy Koyama.
Chad Stahelski muda determinados elementos presentes na primeira parte da série e um dos resultados é impressão de uma dinâmica mais fluida entre as partes e os diferentes capítulos do filme como um todo. Interessante como essa é uma decisão que dialoga diretamente com uma experiência desse cinema de ação dos anos 1990, como nos trabalhos de Woo, por exemplo.
Entendemos que o diretor prioriza certos traços do antecessor (os planos aéreos da cidade, a trilha sonora original) mas assume outras escolhas que dotam o filme de uma maior dimensão no campo da sua unidade. Ele não soa como um longa genérico do gênero. Essa é sua potência. Não é uma obra que busca ser grande por meio de uma proposta de estilização barata.
Ele tem a sua própria unidade estilística muito bem definida de modo que ela mesma atualiza bem as intenções contidas no primeiro filme. Toda a ideia dessa fotografia e paleta de cores néon pode soar como um cliché contemporâneo, mas há um índice que invalida essa interpretação. É seu propósito referencial.
Porque apesar de entendermos as cenas de luta e as propostas de concepção imagética que as acompanham (uma garagem industrial, uma casa em chamas, um museu de arte contemporânea), há um subtexto de outros títulos que ajudam a validar a atual concepção do longa em linhas gerais.
Há muito de uma memória afetiva, imagética e espacial de 007 para além das lutas e das tarefas que unem esses personagens. Essa tradução aberta surge como uma espécie de marcador do filme na sua natureza de reverência a obras como O Espião que me Amava (1977) e Operação Dragão (1973), por exemplo.
Claro que esse gesto nunca é dado como um mero fetiche conceitual. Stahelski parte das imagens - espaço (como colocaria Antoine Gaudin) para propor situações novas que Wick e seus adversários tem de lidar na dinâmica da narrativa em si. Ele não se abandona à sorte de estar nostálgico na sua completude decrépita como a saga Star Wars fez de 2015 a 2019.
Brincar com esses indicativos históricos faz bem ao filme. E por isso mesmo que ele se encerra nesse ponto. Quando vamos à Itália com o personagem, não é para revivermos os eventos do longa de Lewis Gilbert. E sim para, a partir dele, reimaginarmos as construções de cenas propostas por Stahelski. O mesmo vale para a sequência do MoMa.
Relembramos as assinaturas do universo proposto por Robert Clouse e Bruce Lee, mas não em um sentido escapista. Logo entendemos que esses espaços são apenas portais inter-tempos entre filmes de períodos distintos. O que é ótimo porque temos o entendimento de que tudo aquilo o que vemos em cena não é posto como algo excepcional, novo.
Tudo ali parte de um precedente. Ter essa noção é uma forma de a obra de ação contemporânea ensinar a respeito do que já foi feito lá atrás. Ela não quer emular a nostalgia displicentemente. Mas partir dela para jogar sua proposta individual para frente.
Entendermos estar diante de um John Wick e não de uma adaptação de Fleming pelo naturalismo, a sanguinolência e a sobriedade que o projeto de Stahelski evoca. Isso é se projetar no campo da arte para o futuro. Não é sobre revoluções na arte cinematográfica. Mas sobre testar minimamente os limites desses filmes.
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