Missão Impossível: 3 - remodelações da dinâmica de ação na franquia
- danielsa510
- 30 de abr. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 28 de mai. de 2023

De fato essa versão do Missão Impossível do J. J. Abrams leva muito essa carga simbólica mais propensa para o lado emocional da construção narrativa. Os personagens estão sempre circunscritos nesses aspectos do afloramento das suas emoções. Todo o arco que envolve Ethan Hunt (Tom Cruise) enquanto protagonista é pautado em função disso. Ele tem que salvar a namorada e depois também a sua pupila, que é a agente que ele treinou dentro do IMF. A trama do filme toda é trançada em função disso, bem para ou para o mal.
Pelo lado positivo da análise, essa é uma perspectiva que ajuda a humanizar a dinâmica do filme por um lado, mas que por outro, essa vertente abre delicados espaços para se criar elementos que só criam gordura na estrutura do filme, ou seja, o filme, em termos de temporalidade. prática da sua própria duração perde força porque ele se torna muito inchado, em função de coisas que poderiam ser dispensáveis.
Claro que essa é sempre uma decisão do diretor dentro da experiência do cinema mas se a gente for considerar a lógica do cinema de ação e do cinema blockbuster, essa é uma dinâmica que funciona muito mais quando o filme preza por uma espécie de objetividade que tende a cortar esses elementos e priorizar outros como por exemplo o elemento da ação pela ação pela. Ação Acho que bons exemplos é a filmografia do Paulo Wes Anderson e do próprio Top Gun Maverick (2022), que trabalha muito bem essas abordagens.
Tudo que é colocado na tela é exposto a partir de uma programação muito prática. Se a gente for pensar na ideia de vilania ela não existe porque quer destruir o protagonista de qualquer jeito. Às vezes esse traço "vilânico" é quase descorporificado. Ela existe só como uma espécie de ideal. Como é no próprio filme do Kosinski. Esse antagonista ou inimigo que precisa ser detido ele é quase um uma ideia.
É como se fosse uma espécie de metaforização do que seria o antagonismo. Isso acaba sendo mais interessante do que você ter um um vilão crível mas que ao mesmo tempo ele é fraco no sentido de que as vezes as motivações dele não são tão claras ou ele mesmo está inserido dentro de um contexto que é envolto em elementos e questões que são muitas vezes desnecessárias, dentro do do filme.
Mas se a formos nos deter só ao que a mitologia que o Missão Impossível remete, vemos um movimento interessante de segmento das características da série. Porque se no primeiro filme tinha-se muito essa ideia de apresentação de uma uma coisa meio inaugural do que seria a transposição do projeto da série original dos anos 1960, pela visão do Brian De Palma, com um filme de ação bem prático, bem objetivo, mas que tinha essa coisa de uma certa estilização constitutiva por marcas do próprio diretor em questão como autor, isso se transforma em uma outra coisa quando a gente vai pensar o filme do John Woo.
E aí o personagem quase deixa de ser só o agente secreto para se tornar um agente de ação mesmo. Um personagem que luta kung fu e que está inserido dentro dessa estilística ou dessa estilização que é próprio do cinema de ação do Woo. Quando pensamos esse terceiro filme, entendemos que ele está muito mais ligado à ideia de um cinema de aventura. Desses personagens criados pelo J. J. Abrams, mas que ainda reverberam muito essa lógica de um cinema de aventura da década de 1990 e do início dos anos 2000 que foi muito encabeçado pelo Steven Spielberg.
Muitas vezes ele utiliza elementos tão claros da veia spielbergiana que você tem a impressão de estar vendo um próprio filme do Spielberg em si. É uma síntese do que foi o cinema Blockbuster norteamericano daquele início dos anos 2000. Chega a ser em alguns momentos bem genérico. Mas que em alguns instantes ele até funciona bem. Apesar de ação sempre remeter a um traço muito generalista e que vai tende a pende para uma espécie de simplificação daquilo que a cena ou a sequência do filme podem dar a ver.
O saldo acaba sendo mais negativo do que positivo de certa forma é exatamente por isso. A sequência final ilustra muito bem essa ideia de que você está vendo um filme não de uma forma crítica mas de que você está vendo uma obra audiovisual de ficção porque nada daquilo, de certa forma, interessa para a própria concepção da diegese, ou da realidade, de onde os personagens estão inseridos.
Quando o personagem do Hunt diz que é um agente secreto e a personagem da mocinha descredita aquilo o que seu parceiro de cena está falando ela acaba por fim descreditando a própria experiência, vamos dizer assim, de risco da sua vida dentro da verdade do filme.
Apesar de ter toda uma representação dramatizada que a situação da história apresenta, nada daquilo parece importar muito àqueles personagens e isso tira muita força do filme, principalmente pelo fato de ele em alguns momento se propor ser tão naturalista no trato dos do índice da ação em si. E isso positivamente parece ter sido algo que foi pensado, elaborado e colocado em prática quando o Brad Bird vai assumir o quarto filme da franquia no Missão Impossível: Protocolo Fantasma (2011).
Porque ele consegue alinhar muito bem essa perspectiva de de uma ação que aconteceria dentro de uma representação de situações ditas mais "reais", mas sem abrir mão desse elemento mítico do que representa a impossibilidade do cumprimento dessas missões por parte do Hunt e da equipe dele. Podemos entender que é a partir dessa parte da franquia que esse alinhamento começa a ser melhor retomado e dar os alicerces para que o Christopher McQuarrie propôs nos seus filmes seguintes, de Missão Impossível: Nação Secreta (2015) a Missão: Impossível - Acerto de Contas "Parte 2" (2024).
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