Missão Impossível: II - uma lição de respeito às convenções do gênero
- danielsa510
- 21 de mar. de 2023
- 4 min de leitura

Direção: John Woo. Roteiro: Ronald D. Moore, Brannon Braga, Robert Towne. Produção: Tom Cruise. Montagem: Christian Wagner, Steven Kemper. Fotografia: Jeffrey L. Kimball. Som: Dino Dimuro. Música: Hans Zimmer. Efeitos Visuais: Craig Barron
Uma das coisas que podemos destacar desse Missão Impossível é o fato de ele ser um filme de continuação "sem ser". Isso porque estamos lidando com uma obra que vai retomar elementos da série clássica da década de 1960 e também do filme original de 1996. E o interessante aqui é porque o Woo não opera em torno da ideia de um trabalho meramente apológico. No sentido de que ele tem a liberdade de colocar elementos que são específicos e próprios da sua assinatura, enquanto autor.
E ele faz isso muito bem porque esse é um filme de espionagem, assim como a série clássica e a cinematográfica o são, mas também sendo uma obra do subgênero de artes marciais. Esse é um ponto forte porque é um traço que vai estar circunscrito fortemente na gênese do protagonista em si.
O Ethan Hunt deixa de ser esse agente secreto stricto senso, como o cara que estaria ali apenas desenvolvendo as atividades que a IMF designa pra ele não apenas pela engenhosidade do modo como ele resolve as situações, mas muito mais por meio do confronto direto.
É um filme do John Woo acima de tudo porque ele lida com confrontos literalmente e de modo direto. A luta não tem cerimônia, ela é objetiva e está ali para ser algo quase que descritivo mesmo onde percebemos a mecânica dos golpes dados, perceber a movimentação que o personagem faz em determinada cena, tudo isso é muito pensado dentro do filme.
E isso é interessante porque diz respeito do nível do fime. Onde ele não está ali para desenvolver uma pseudo complexidade do que a narrativa queira entregar. É uma obra de ação e pronto. Lembra bastante a experiência de filmes contemporâneos, um deles protagonizado pelo próprio Cruise, como o caso de Top Gun: Maverick (2022). Você tem essa ideia do mal e da vilania e onde ela não carece de uma construção mirabolante.
Não há uma necessidade de colocar esse elemento do que seria esse mal como algo intransponível, como uma coisa que o herói não consiga combater. É algo até bastante simples. Aqui, esse vilão quer tomar posse de um vírus para poder realizar uma chantagem com um chefe da Industria Farmacêutica a fim de receber, no final do processo, uma grana com isso e obter ações no mercado oriundas dessa transação envolvendo esse agente biológico. É bem objetivo nesse sentido.
Não tem uma certa construção mais complexificada como víamos no primeiro filme. A trama da espionagem é bastante simples porque o foco do filme é ser sobre uma ação que é a linha principal do personagem. A ação é o que dita o que ele faz. É sobre um personagem agindo em torno de algo que ele tem de fazer, de uma missão que ele tem de cumprir. é muito legal ver os cruzamentos.
Porque a sequência que antecede o ato final, por exemplo, lembra muito Fervura Máxima (1992) e outros filmes de artes marciais e ação que Woo dirigiu na década de 1980 e 1990. Lidando com esses personagens que vão usar da arma de fogo como elemento principal de combate. Ele usa o corpo como arma, mas também utiliza a arma de fogo como essa espécie de símbolo de restauração da ordem naquela realidade fílmica.
Interessante que apesar de ele ser um filme que brinca muito com ele mesmo, nunca soa depreciativo no sentido do que vimos em um filme como Matrix Ressurrections (2021). Uma vez que notávamos que as Wachowski tinham como meta meio que se fagocitar e se destruir mesmo essa mitologia trazida pelas referências de uma obra como Matrix encarna em detrimento de algo que elas podem chamar pra si, ou de algo que tenham criado.
E não é o caso desse Missão Impossivel porque entendemos que o Woo é muito respeitoso com as convenções do subgênero. E ainda que ele brinque com essa coisa de brincar com os código de um filme como o do De Palma como algo que ele vai brincar para extrair possibilidade outras, claro, dentro daquilo oque a assinatura dele propõe.
Apesar de o filme ter esse tom meio jocoso, de a gente nunca achar que as coisas sejam sérias o suficiente dentro daquilo o que a gente entende como a diegese do filme ou a realidade do filme. Mas ele se leva muto a sério no fim das contas porque a meta do antagonista é clara. Porque ele não está "jogando" enquanto o que ele quer fazer.
Ele vai fazer e os perigos refletem essa sobriedade, eles são reais. Existe uma iminência ali entorno do que acontece nas sequências, principalmente nas de ação. Isso é bem legal da parte do Woo, porque mostra o quanto ele queria criar uma obra que estaria para a posteridade. É um filme que à princípio pode parecer bobo mas revela-se possuidor de uma carga de naturalismo quando levamos em conta a forma como os eventos são conduzidos. Por tr essa consciência é um novo clássico do cinema de ação contemporâneo.
Comments