Não Olhe para Cima: refletindo a inconstância discursiva do filme

Direção: Adam McKay. Roteiro: David Sirota. Montagem: Hank Corwin. Direção de Fotografia: Linus Sandgren. Produção: Scott Stuber. Som: Justin Doyle

Adam McKay de fato não risca uma linha única para o desenho da sua abordagem. Podemos entender o filme como uma comédia farsesca e a partir disso os eventos vão se sucedendo.

O problema desse traço de inconstância na definição do tom que o gênero tem, é que ele acaba tirando uma considerável força da narrativa no seu todo. Em diferentes momentos, ficamos sem ter uma impressão definida se estamos diante de uma comédia ou um filme de tragédia.

Essa indefinição, via de regra, pode até gerar potências no modo como a estrutura da obra se estabelece. O realizador não precisa mesmo dividir o trabalho em blocos temáticos. Ainda assim, aqui, essa alternância não soa muito natural.

A impressão que temos é que McKay troca a chave do gancho do gênero quase que aleatoriamente. Em alguns momentos essas entradas cômicas garantem uma base contextual a partir daquilo o que o longa lida: a ideia da extinção da vida na Terra em sua iminência. Mas em outros instantes não.

Esse é um dualismo que acaba operando contra o filme. Queremos estar ao lado desses personagens ou só ver suas existências definhando ante a chegada do meteoro? Talvez isso sequer importe muito no fim das contas.

Uma vez que o que valha nesse momento seja entendermos o ciclo por que essas figuras passam até que a história se consuma. Quando isso ocorre, no entanto, a sensação que ficamos é a de que tudo poderia ter sido contado numa duração máxima de 50 minutos.

Esse tipo de percepção sempre abre precedente para refletirmos sobre a individualidade e a intransferência do modo como lemos os filmes. Posso até ter essa percepção sobre a metragem hoje, mas talvez daqui a um tempo, esse olhar se transmute. Essa é uma das marcas na nossa relação com os filmes.