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O Assassino: recuar para entender a ação na contemporaneidade



A autoria para o cinema norte-americano parece sempre ter sido uma questão fundante quando refletimos sobre aspectos da historiografia dessa arte. Da referência pelas obras de John Ford, Billy Wilder, John Houston a Maya Deren, a assinatura soa como essa espécie de marca de seguridade tanto em termos de conteúdo quanto no uso da forma fílmica.


Numa era de excessos, onde a própria necessidade de fazer algo diferente acaba desembocando em trabalhos, muitas vezes, falhos, apressados e meramente operacionais, Fincher sustenta uma relevante posição de "recuo" em diálogo com algumas das melhores posições da prática cinematográfica contemporânea.


Afinal, numa era de intensa violência nas relações humanas, propor um olhar sobre a vida - e pelos olhos - de um matador de aluguel, exige muita perícia. É um trabalho bem direto na sua execução e que recusa rodeios no desenvolvimento da trama. Aqui, cabe até abrirmos um parêntese sobre essa questão da objetividade.


Muitos colegas têm levantado esse ponto daquilo o que seria uma suposta posição diretiva como sendo um traço invariável do "êxito" na execução do cinema. O fato é que, um filme ser bem realizado nada tem a ver com ele ser necessariamente objetivo ou não.


Uma série de elementos contam nessa análise desde a metragem até a liberdade criativa do(a) diretor(a) diante das condições do estúdio. Em se tratando da lógica industrial estadunidense, tudo isso deve ser considerado no gesto analítico.


O que não é o caso desse lançamento da Netflix. Uma vez que, mais do que um produto de temporada, o filme de Fincher traz pontos importantes para o debate. Ele faz um filme de subgênero espionagem, mas contendo bastante os códigos mais clássicos de projetos como os envolvendo James Bond ou outros dramas policiais.


Traz essa perspectiva até muito recente pautada por Chad Stahekski sem decidir pelo grafismo da condução do elemento ação ou a hiperestilização nas construções de cenas e ambiências no longa-metragem.


Há sim, uma preocupação em decupar bem os espaços fílmicos, mas isso se relaciona mais a uma preocupação da obra em situar o espectador onde quer que a situação ocorra. Seja em locais internos ou externos, jamais perdemos a noção de sentido ou direção de onde ou aonde o protagonista está indo ou está presente. São seus capítulos e um epílogo que dão conta de uma estória com princípio e fim.


Pegamos na mão desse homem sem nome para entendermos que ele mesmo, em toda a sua disfunção, vai trilhar um caminho de reconfiguração daquilo o que ele entende como sendo os paradigmas da sua própria forma de conduzir a vida. Ele é brilhante porque não está imune como pensa por si mesmo se encontrar.


No embate com cada novo alvo, uma fagulha de reordenação da sua régua interpretativa do mundo acontece. E do gatilho puxado no primeiro ato à decisão tomada na penúltima parte da obra, o assassino perfaz sua caminhada, talvez não de redenção, mas de ressignificação do modo como ele mesmo racionaliza o mundo ao seu redor.

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