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O Menino e a Garça: uma fantasia perspectivada no real

Crédito: Sato Company

Direção: Hayao Miyazaki. Roteiro: Hayao Miyazaki. Montagem: Takeshi Seyama. Direção de Fotografia: Atsushi Okui. Produção: Toshio Suzuki. Som: Mika Yamaguchi, Koji Kasamatsu. Música: Joe Hisaishi. Design de Produção:


Em algum ponto da sua carreira, Hayao Miyakazi parece ter encontrado um meio-termo na união de uma vertente fantástica e realista. Nos reportando mais especificamente entre o intervalo que separa, ou une, A Viagem de Chihiro (2001) e Vidas ao Vento (2013), é onde este novo filme pode ser encontrado. Por isso ele vem e vai na constituição da sua universalidade temática.


O peso do trauma alocado pela morte fala bastante sobre como um protagonista pode concluir sua viagem com mais sabedoria ao passo que também oferta ao espectador a contrapartida desse aprendizado mútuo sobre a arte de viver. O conflito vivido por Mahito, nesse caso, não vem como uma forma dele buscar uma restituição da perda para com o mundo. 


Logo, o garoto pensado pelo autor não estaria na lista do que poderíamos chamar de uma figura da amargura. Maior que isso, ele incorpora a dificuldade do momento em um modo de (re)compensar um familiar nesse luto partilhado. E quando ele tem de agir com mais rispidez nesse mundo naturalista, a dor só pode acontecer se for autoinfligida. 


Uma pedrada na cabeça revela mais que o choque com uma realidade em desmaterialização. Ela abre um portal invisível, mas não secreto, ao lhe conduzir à raiz de parte desse problema. O sangue é a demarcação dessa linha traçada em vermelho e que comunga a ludicidade carregada pela animação com o impacto visual de uma dor física que ultrapassa os limites do "filme para criança". 


Esse não é o caso, claro. Ponyo (2008), talvez sim. Mas não nesse Japão rural onde Mahito terá de reiniciar sua vida. Por isso esses personagens não têm tempo para falsas recusas ou traçados pautados na experiência ocidentalizante de Campbell. Por isso que, talvez, Miyazaki opte por compartimentar os eventos sem que, necessariamente, tenhamos de senti-los na montagem como um fluxo contínuo de situações. 


Não há nada de "Chihiro" nesse ponto. Toda a primeira parte da obra se arquiteta nessa estrutura. O segundo terço, sim, obedece uma orientação mais pautada no desvelamento da magia por trás desse outro Japão, além dele mesmo. 


A fantasia reina, aqui. E isso, não obrigatoriamente, desvincula a experiência desse mundo dessa noção aprimorante que o herói deve ter ao longo da sua trajetória. Não é que ele tenha de salvar alguém ou algo. A escolha até lhe é dada, mas isso para ele sequer se torna uma questão quando ele avalia o compromisso a assumir consigo mesmo e com aqueles a quem ele ama. Isto posto, tudo bem abaixo. 


A fantasia se autodilacera para que algo novo surja. Mais do que personagens do altruísmo, esse novo Miyazaki nos oferece uma perspectiva de coerência dos termos possíveis na narrativa de animação contemporânea. E isso é algo realmente lindo.

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