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Os Rejeitados: da realidade e suas emulações ficcionais


Crédito: Miramax

Direção: Alexander Payne. Roteiro: David Hemingson. Montagem: Kevin Tent. Direção de Fotografia: Eigil Bryld. Produção: Bill Block. Som: Frank Gaeta. Música: Mark Orton. Direção de Arte: Wendy Chuck


O aspecto gráfico do filme, sobretudo no uso dessa fotografia de tom mais granulado e cores pasteis remetem muito a uma experiência setentista na prática, mas felizmente essa condição maneirista não contamina o filme na sua totalidade. Alexander Payne trabalha esse regime de correlação direta entre o discurso e a técnica, mas não se rende a um impulso estilístico esvaziado de significação.


Seu interesse final é o desenvolvimento dos laços que colocam tutor e tutorado em uma escala única. Ele não simplifica esse processo e isso fica bem evidente no modo como os adultos lidam com as situações, no fim das contas. E aquilo o que iria simplesmente emular uma vibe "Sociedade dos Poetas Mortos" até consegue o mérito de escavar uma arqueologia própria das limitações, falhas e medos a serem superados por Tully, Hunham e Lamb.


Nada demais se formos considerar o filme como unidade aberta a experimentações ou quebras de pontos de vista, composição narratológica ou qualquer outra estrutura elementar possível a ser instituída no nível do filme. Fato é que, ainda que o componente técnico ou visual ascenda, a princípio, logo entendemos que são as interações humanas que fazem a liga da obra.


Um filho rejeitado pela mãe, um pai adoecido e isolado do convívio social, um educador mal compreendido e uma mãe enlutada. São tópicos bem básicos de uma construção dramatúrgica contemporânea, mas que garantem, minimamente uma aproximação com algum naturalismo centrado no espelhamento da "vida real".


Colocando a produção de Payne em perspectiva, interessante notarmos o recuo que o realizador executa entre o intervalo que separa "Pequena Grande Vida" (2017) deste novo filme. Passa a ficcão científica de aventura para operar no campo do melodrama de comédia com algum contexto historiográfico e, em alguma medida biográfico, se consideramos a ambiência setentista onde o artista provavelmente viveu.


É como se, reencenando o período histórico dessa América da década de 1970, Payne tentasse recriar uma projeção de época. Uma retomada que não está apenas na esfera do design de produção, mas também no filme enquanto processo de direção artística ou, como já mencionamos anteriormente, na visualidade daquilo o que as câmeras e conjunto de iluminação podem fazer pelo trabalho de refazimento de realidades, ainda que entendamos o fato de o filme em si, na sua própria realidade, prescindir disso.


O filme é a realidade, sempre e não sua emulação. Essa é a mágica do cinema e ponto.

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