Pisque Duas Vezes: paralelismos do horror contemporâneo
- danielsa510
- 16 de out. de 2024
- 2 min de leitura

É potente o esquema no qual Zoë Kravitz arquiteta o filme. Gosto particularmente do modo como ela pensa o universo da estória a partir de uma conceituação de redução mesmo. São poucos personagens no núcleo central e essa é uma premissa que se estende para o curso de toda a obra.
Não há uma construção hiperdimensionada ou auto justificativa para a forma como as situações se dão. Todo o arranjo no qual a protagonista está envolvida acontece por um motivo. Há uma dimensão do segredo a ser revelado, mas isso não é posto no trabalho como uma recompensa ao espectador que deduziu algo sobre antes que tal proposição se estabelecesse.
Tal qual um quebra-cabeça com algumas peças em falta, a mente de uma figura como Frida, ou qualquer uma das garotas da ilha, funcionam em paralelo, nem tanto pela partilha da experiência (boa ou ruim) de cada uma delas. Mas muito mais pelo secção que a violência articula e imprime na individualidade de cada uma dessas mulheres.
Penso que esse jogo com um estado de violência no thriller contemporâneo é algo que instiga um debate em torno daquilo o que a cinematografia decide colocar em evidência discursiva, logo, problematizadora, ainda que entendamos as limitações que um espaço como Hollywood tem na experiência cinemática dos nossos dias.
Fazendo um exercício rápido de comparatividade, guardadas as devidas proporções e especificidades de cada filme, sendo eles mesmo um universo a parte, sem dúvida, entendemos que títulos como "O Homem Invisível" (2020), "Bela Vingança" (2020) ou "Saltburn" (2023) elaboram bem esse escopo de um fluxo mainstream que entende, ainda assim, não operar uma mudança conceitual disrruptiva que seja nos níveis conceituais dessa dinâmica fílmica atual.
São filmes que elaboram esse estado de inquietação estando cientes das pontuações que eles podem incitar. Em uma outra via, projetos como "Retrato de Uma Jovem em Chamas" (2019), "Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre" (2020), ou "O Acontecimento" (2021), são exemplares de uma outra vertente do cinema no apontamento de questões outras que não somente aquelas significadas parcialmente citados nos trabalhos anteriores.
O que parece nos apontar vias distintas, verdade, mas com uma certa multiplicidade de abordagens sobre o estar do feminino do dia de hoje.
Portanto, a questão talvez nem devesse residir nessa obrigatoriedade de um pretenso "grau zero" da relevância ou no modo como o filme devesse elaborar ou problematizar seus eixos temáticos ou estilísticos, técnicos, que sejam.
Acho que além de injusto, essa visão soa arbitrária para o modo como nos relacionamos com cada uma dessas peças.
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