The Souvenir: a subfragmentação de um amor histórico
- danielsa510
- 1 de set. de 2021
- 2 min de leitura

Direção: Joanna Hogg. Roteiro: Joanna Hogg. Produção: Martin Scorsese. Montagem: Helle le Fevre. Direção de Fotografia: David Raedeker. Direção de Arte: Pedro Moura.
Vale demais aqui o destaque para como Joanna Hogg trabalha a concepção do filme histórico - biográfico sem necessariamente partir ou deter-se exclusivamente numa estruturação iminentemente clássica. Ela monta a narrativa em linha cronológica, mas distribui a ordem dos eventos dentro de uma armação sub-fragmentada.
Não temos elipses ou flashbacks e a estória sempre vai à frente. Por outro lado, é interessante notarmos como a diretora decide pulverizar essa construção. Se pensarmos no filme como um pequeno quebra - cabeças, é como se ela ocultasse algumas peças sem que necessariamente isso prejudicasse o entendimento do todo a ser representado na obra.
De início, não entendemos muito bem qual o tipo de relação que a protagonista, Julie, estabelece com seu par romântico, Anthony. E é a partir dessa dinâmica semi-ocultada que todas as demais peças do jogo fílmico vão sendo estabelecidas. Falar desse estar romanesco importa porque de fato estamos diante de um melodrama histórico.
Há uma dispensa no uso de cartelas que demarcariam esse índice temporal, mas isso em nada atrapalha o nosso entendimento do período em que a estória se passa. Esse indicativo surge muito mais pelas próprias informações que são detalhadas e expressas entre os capítulos do longa. Ao invés de expor o dado textualmente, mostra-se a partir do que o contexto infere.
Mais que isso até, tenta - se experimentar inclusive um entrelaçamento inter-temporal. Ou seja, apesar de o design de produção e direção de arte do filme ilustrar ou demarcar esse retorno ou estabelecimento de um tempo passado, até que esses aspectos cronológicos sejam de fato pontuados, ficamos com a impressão de que a narrativa se desse nos dias de hoje.
Longe de ser considerado um "desvio", essa possível interpretação parece indicar muito mais uma decisão consciente da direção de brincar inicialmente com esse estado de indefinição cronológico para então, a posteriori, reforçar o estado dessa retomada ao passado mesmo.
Esse belíssimo filme está disponível na Netflix
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