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Undine: o mito como caminho interpretativo da ausência


Direção: Christian Petzold. Roteiro: Christian Petzold. Produção: Florian Koerner von Gustorf, Michael Weber. Montagem: Bettina Böhler. Fotografia: Hans Fromm. Som: Andreas Mücke-Niesytka. Direção de Arte: Merlin Ortner


Diferentemente das suas obras anteriores, como Barbara (2012), Phoenix (2014) e Em Trânsito (2018), aqui, Christian Petzold se embasa na referência do mito alemão de Ondina para iniciar o que muitos têm comentado ser uma nova trilogia do realizador.


O fantástico, por isso mesmo, está diretamente ligado à estrutura da narrativa. E ao invés dos longas acima, a referência a essa realidade fabulada é a linha mestra de condução da estória.


Até vemos algumas imagens e planos que remetem a esse universo onírico e mitológico, mas eles aparecem muito pontualmente. Interessante como o diretor, opta, ao contrário, inserir essas ligações estilísticas por meio de uma construção imagética baseada na ideia do raccord cinematográfico.


Por isso vemos essa correlação por vezes mais direta, em outras mais indiretas, entre as cenas. Uma pequena estátua que se quebra no ponto da perna reflete - se naquilo o que os personagens vivenciam na realidade do filme, por exemplo.


Quando a protagonista afirma poder matar uma determinada figura, esse embate em algum momento vai se consolidar. Essa dinâmica da tragédia, ultrapassa o campo da ilustração. Ela se materializa em conceito e forma. Ação e concepção tornam-se espectros de uma mesma perspectiva.


Esse é um jogo que pode até soar ilustrativo, mas que se encaixa muito bem na proposta desse trabalho mais lúdico. Apesar disso, é boa a condução que Petzold adota nesse jogo entre a representação do mítico e do histórico a partir daquilo o que a cinematografia pode representar. É claro que, quando colocamos em perspectiva a filmografia desse grande autor alemão, este filme em específico soa como uma experiência de contorno em um percurso.


Uma proposta de alternância que parte da ideia do mito - elemento caro e rico na historiografia do cinema - e que, entendamos ou não, nos leva para um caminho interpretativo de "falta", dessa ausência de um sentido claro. Uma indefinição dos termos que, em verdade, sempre esteve presente na assinatura do diretor desde o lançamento de seus primeiros filmes de longa-metragem no início dos anos 2000.


Esse pedaço em suspensão, a propósito, é uma das maiores potências da nossa relação com os filmes. Rever Undine daqui a 20, 40 anos pode nos render esse bônus da mudança do olhar.

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