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Vidas Passadas: ensaio sobre a maturidade

Atualizado: 30 de jan.


Direção: Celine Song. Roteiro: Celine Song Montagem: Keith Fraase. Direção de Fotografia: Shabier Kirchner. Produção: Christine Vachon. Som: Eric Strausser. Música: Christopher Bear, Daniel Rossen.


A experiência que Celine Song nos propõe está muito mais vinculada a um exercício de compreensão das vertentes do que seria o amor na contemporaneidade do que uma exposição simplesmente pautada na elaboração de uma ficção limitada ao campo da reprodução do romance como subgênero.


Não que ele deixe aqui de ser isso, mas soa muito bem esse desprendimento do cinema na sua proposta ficcional. Tudo é encenação, obviamente. Mas nem tudo precisa ser uma manifestação pueril em uma estória de engajamento junto ao espectador. 


Pode ser mais, e esse é o escopo em que o filme se desenvolve. Interessante ele ter início com esse senso de especulação. Nada prepotente ou pretensioso. Os personagens encontram-se em um bar numa noite qualquer. Ao longe, um outro grupo de pessoas criam suposições sobre qual a relação do trio logo a frente. 


O rapaz branco norteamericano seria um amigo nativo do casal sul-coreano? Ou esses dois seriam irmãos de férias em visita ao amigo em Nova York? Uma visão clichê colocada na boca daquilo o que qualquer espectador mais passivo naturalmente poderia vir a ter e que Song reconstitui um capítulo até entendermos o real contexto que conecta a vida dessas três figuras. 


Curioso como o filme tem esse contorno mínimo, de um um trabalho mais contido, mas que conscientemente se desenvolve como um "épico de bolso". Nas suas cerca de 1h40, a obra se costura entre diferentes épocas, temporalidades. Mas não somente a tópicos relacionados à cronologia. 


Uma vez que a cada terço das suas vidas, vamos acessando distintas formas com que Nora, Hae Sung e Arthur olham para os eventos constitutivos das suas vivências. Nesses encontros e desencontros do viver, os personagens são encaminhados para os enfrentamentos daquilo o que a fase adulta pede de cada um de nós. 


O ser adulto aqui não se restringe à representação daquilo o que eles fazem ou dizem uns aos outros. Tudo isso é uma parte importante da construção dramatúrgica, mas ela não define aquilo o que eles são, de fato. Um dos grandes, senão, o maior mérito do longa é entender que a maturidade passa pelo modo como lidamos com os conflitos interpessoais ao longo dos anos. 


Pode parecer uma questão deslocada da própria forma como o cinema mundial contemporâneo compreende suas estruturas, mas isso tem tudo a ver com o modo como os filmes têm lidado com essa encenação das problemáticas do viver. 


Colocar três personagens em argumentação sem que isso seja usada como manobra espetacularizante ou hiper dramatizada é uma grande prova do quanto um realizador entende esse ponto de maturidade da própria escrita cinematográfica na sua essência. 

Celine Song entende essa perspectiva perfeitamente e por isso mesmo a própria construção dramatúrgica do filme soa desdramatizada, em certa medida.


Na verdade, ela só não se "inflama". Não há certos e errados no meio das tramas afetivas. Há diálogos estabelecidos sem que uma voz precise estar em um tom mais alto que outro. 


Não há discussões desnecessárias, somente aquelas que colocam a narrativa adiante. O jogo com o romance contemporâneo vem mais na forma daquilo o que poderia vir a se tornar um gancho ou gatilho para uma situação melodramática qualquer.  Antes da despedida final, um abraço que abarca uma linha temporal inteira. Fim.

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